quinta-feira, 28 de maio de 2015

Canção de amar

Música (detalhe) # Gustav Klimt






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terça-feira, 26 de maio de 2015

O susto e o SUS





HUCK, ANGÉLICA E A VIDA DEPOIS DO SUS

Paulo Moreira Leite


Vivemos num país onde não faltam pastores de boas almas. Você sabe quem são essas pessoas.
Adoram explicar que o brasileiro não gosta de colocar a mão no bolso para a filantropia. Reclamam da falta de solidariedade na vida cotidiana. Falam de egoísmo como uma doença incurável. Detestam o Bolsa Família porque preferem esmolas. Falam mal do Mais Médicos e adoram Médicos sem Fronteiras. Criticam universidades públicas porque são a favor de ensino superior privado — como nos Estados Unidos — reservando bolsas apenas para alunos pobres que têm um desempenho próximo da genialidade.
Pois o acidente de Luciano Huck, Angélica, seus três filhos e duas babás criou uma oportunidade rara para se debater essa situação — e as responsabilidades de cada um na solução dos problemas que afligem a maioria dos brasileiros.
Há pelo menos 20 anos que a saúde pública é o principal problema do país, dizem os brasileiros nas pesquisas de opinião. Às vezes está em primeiro lugar. Outra, em segundo. Raramente, em terceiro.
Mas Luciano Huck e Angélica não tem do que reclamar neste aspecto. Saíram do Hospital mantido pelo SUS no Mato Grosso do Sul distribuindo elogios rasgados ao atendimento. Mesmo brasileiros que reservam uma parcela importante do salário para pagar um plano de saúde privado não costumam ficar tão satisfeitos quando são atendidos.
Olha só: num país onde a TV só mostra reportagens com pacientes desmaiados no chão, crianças chorando e idosos em total abandono, as estrelas da TV não tinham do que reclamar. Só falaram bem. E fizeram isso motivado pelo maior dos valores, a honestidade de quem fala por experiência própria.
Nós sabemos que o atendimento do SUS costuma surpreender — positivamente — quem precisa de seus serviços. A maioria dos usuários tem mais elogios do que críticas ao atendimento. Isso mostra que o SUS deve ser ampliado e fortalecido. Mas essa situação não deve nos iludir nem pode ajudar a encobrir carências e dificuldades de toda ordem.
Eu, você, os dois e os 200 milhões de brasileiros sabemos que esse atendimento não é para qualquer um. É triste mas é verdade. Vivemos numa sociedade de desiguais, onde o atendimento médico, mesmo num hospital público, varia conforme o prestígio e o poder de cada paciente. Não é preciso lembrar a lista de celebridades — dos negócios, da política, etc — que frequenta nossos grandes hospitais privados.
E se algum dia você viu um amigo, parente ou simples conhecido recebendo um bom atendimento na rede pública, em especial para os chamados casos de ” maior complexidade “– aqueles que matam, certo? — terá o direito de perguntar se ele teve ajuda de um bom pistolão para conseguir tal proeza.
Só podemos, portanto, ficar felizes que pelo menos uma família conseguiu um primeiro atendimento adequado — e nós sabemos como o primeiro atendimento costuma ser decisivo após uma tragédia. Em geral, define o que vem depois.
Mas nós sabemos, também, porque isso acontece. Fama, prestígio, receio de uma denúncia. Você sabe com quem está falando?, poderia perguntar o antropólogo Roberto da Matta.
Falta muita coisa na vida real de nossos hospitais: boa gestão, médicos cumpridores de seus plantões, instituições bem equipados. Mas falta, basicamente, dinheiro. Faça uma lista dos problemas e você logo verá que tudo começa e termina na falta de recursos.
Esse quadro se agravou a partir de 2007, quando a oposição derrubou a CPMF no Senado. Faltaram quatro votos. A vontade de retirar uma bolada estimada em R$ 30 bilhões anuais da saúde era tamanha que os presentes sequer atenderam a um apelo do veterano Pedro Simon, senador da oposição, para que a decisão fosse adiada, permitindo novos debates, mais reflexão. Em vão. Nem quiseram saber que a CPMF era um impsto progressivo, aquele que cobra mais de quem tem mais.
Oito anos depois, Angélica e Luciano Huck elogiam o SUS. Eles podem fazer isso. É verdade que muitos brasileiros já puderam usar os serviços do SUS e foram bem servidos. Conheço casos assim e sei que são importantes.
Mas, para muitos brasileiros o SUS sempre será o que sempre foi. Motivo de decepção, raiva e poucas surpresas agradáveis.
Não precisamos reformar as almas.
Mas podemos pensar em responsabilidades. Depois de receber um atendimento tão especial, nossos apresentadores poderiam fazer o possível para que mais brasileiros pudessem ser atendidos nas mesmas enfermarias, pelos mesmos profissionais, com a mesma atenção, que eles receberam no Mato Grosso do Sul.
Poderiam assumir uma campanha pelo retorno da CPMF, que está na base de tudo. Seria uma grande homenagem para a equipe médica, para os enfermeiros, para o pessoal da limpeza. Acima de tudo, seria um gesto de solidariedade para ajudar milhões de brasileiros a ter um atendimento digno. Não quero ser mal educado nem ressentido. Longe de mim fazer o papel de desmancha-prazeres tão bem apontado por Mário de Andrade. Mas acho que Luciano e Angélica entendem de dinheiro. Sabem seu valor, sua importância, seu caráter decisivo. Sabem que nenhum país pode atender as doenças de 200 milhões de habitantes com um dos mais baixos gastos em saúde publica da América do Sul, com tantos subsídios diretos e indiretos ao sistema privado.
Os brasileiros humildes também querem falar bem do SUS. Querem ter orgulho de sua saúde pública. Sabem que isso é parte da cidadania.
A outra opção é esperar que tudo volte a ser como antes daquele desastre do avião. Pode acontecer com qualquer um, inclusive com quem não é qualquer um.
Alguma dúvida?


Onde:

http://paulomoreiraleite.com/2015/05/25/hulk-angelica-e-vida-depois-sus/

http://www.freepik.com/index.php?goto=2&searchform=1&k=medical+care


segunda-feira, 25 de maio de 2015

AFROdite

Poema postal (Cafu) sobre foto de Uwe Ommer



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domingo, 24 de maio de 2015

Sei-os

Seios # Francis Picabia






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http://www.wikiart.org/en/francis-picabia/breasts

sábado, 23 de maio de 2015

A indecência pode ser saudável

Sem Título # Vilari Hermann



A INDECÊNCIA PODE SER SAUDÁVEL

A indecência pode ser normal, saudável;
na verdade, um pouco de indecência é necessário em toda vida
para a manter normal, saudável.

E um pouco de putaria pode ser normal, saudável.
Na verdade, um pouco de putaria é necessário em toda vida
para a manter normal, saudável.

Mesmo a sodomia pode ser normal, saudável,
desde que haja troca de sentimento verdadeiro.

Mas se alguma delas for para o cérebro, aí se torna perniciosa:
a indecência no cérebro se torna obscena, viciosa,
a putaria no cérebro se torna sifilítica
e a sodomia no cérebro se torna uma missão,
tudo, vício, missão, insanamente mórbido.

Do mesmo modo, a castidade na hora própria é normal e bonita.
Mas a castidade no cérebro é vício, perversão.
E a rígida supressão de toda e qualquer indecência, putaria e relações assim leva direto a furiosa insanidade.
E a quinta geração de puritanos, se não for obscenamente depravada,
é idiota. Por isso, você tem de escolher.


D. H. Lawrence - José Paulo Paes


Onde:


Poesia Erótica em tradução de José Paulo Paes - Companhia de Bolso
Cia das Letras

http://www.faap.br/revista_faap/revista_facom/artigos_visualidade1.htm

sexta-feira, 22 de maio de 2015

A filósofa e o arquiteto

Desenho de Oscar Niemeyer

Sônia Viegas revela o sonho de sua casa


Caro Humberto,

Como dar forma espacial a um sonho quando não se é, como você, um poeta do espaço? Vou esboçar um universo fragmentado de qualidade e de desejos, no esperança de que você o imprima e unifique na pedra, na terra, na distância precisa entre uma janela e uma porta, uma parede e uma escada, um patamar e um vão que se ergue das sombras, a recortar, de dentro, o céu.
No esforço para revelar uma casa imaginária, percebo que meu sonho não possui ao menos um contorno definido. Eis o que acontece aos sonhos habitados. Não se lhes percebe a forma, pois apresentam a mutabilidade de nossos estados de espírito.
De imediato a casa se me afigura apenas como um forte (e talvez excessivamente romântico) desejo de paisagem. Existem habitações que dão para lindas vistas, mas minha exigência de paisagem não se resolveria dessa forma, pois demanda a integração entre a intimidade da casa e o ambiente exterior; conluio do dentro e do fora, à mercê do vento, da luz, da sombra e do som.
A paisagem seria, então, através do pórtico mineral por você arquitetado, a solene vista da mata e das montanhas (onde imagino e desejo o percurso inteiro do sol), mas, também:

° O ângulo de uma fresta de luz morrendo no crepúsculo, à soleira de uma porta;

° A sombra de uma casuarina através da janela;

° O vermelho da terra contra a força do muro, semi-coberto (já) de alguma hera;

° O movimento da lua através de seus ciclos, pressentido ou devassado durante alguma vigília, no jardim.

Se tento, agora, imaginar os espaços interiores desta casa que me habita em sonho, vejo:

° Uma ampla cozinha, que recebe de cheio as inflexões do dia e da noite. Nessa cozinha-concha receberei amigos e netos, passarei momentos raros, saturados de vinho e de vigília, acessível aos rumores da noite, protegidos pela nudez das paredes, pelo brilho do fogo, na crepitação da lenha.

° Quartos quentes, iluminados pelo sol, com pequenas varandas dando para o recorte interno do céu. Num deles repetirei o apelo de Garcia Lorca:
“Quando eu morrer, deixai a janela aberta”.

° Uma sala feita de patamares interrompidos pelo verde, pela pedra, pelo musgo; com sua mágica abertura para o céu, entrecortada de sombras e reflexos.

Uma casa, como você pode ver, já incorporada na primeira forma que você lhe deu.
Um abraço afetuoso,


Sônia Viegas.


Carta de intenções da filósofa Sônia Viegas ao arquiteto Humberto Serpa.

Publicada em algum jornal de Minas em 22 de Dezembro de 1990, algum tempo depois da morte da inesquecível mestra mineira.

quinta-feira, 21 de maio de 2015

Travessia

Travel # Shout





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quarta-feira, 20 de maio de 2015

Na morada da poesia

I love letters # Max Kisman






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http://bykisman.com/kismanstudio/

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segunda-feira, 18 de maio de 2015

Que faz um médico cubano nos confins do Brasil

Charge de Duke (sobre os médicos brasileiros)



O médico-leitor nos confins

Milton Hatoum


Pescamos aracus e oranas, e devolvemos às águas do Negro os filhotes de matrinxã e piranha-caju. Se fossem piranhas crescidas, dariam uma deliciosa caldeirada com pirão apimentado.
As crianças, impressionadas com as piranhas, perguntaram se eram perigosas.
“Assim miudinhas, não”, disse Absalão. “Quer dizer, se tiver sangue na água, aí até essas miúdas atacam.”
Já escurecia quando guardamos os caniços; depois Absalão foi limpar os peixes. Nosso barco estava atracado numa ilha do Negro, uma das centenas de ilhas que surgem no verão e sobrevivem até março ou abril, quando são cobertas pela enchente e o rio torna-se um mundo de águas escuras e nem sempre espelhadas.
Só às oito da noite vi na popa do barco um rastro de sangue que sumia na escadinha que conduz ao porão das máquinas. Desci para saber o que tinha acontecido.
“Tava amolando as facas e vacilei”, lamentou Absalão.
Vi na mão esquerda do pescador o corte em cruz, profundo, que sangrava muito. O posto de saúde mais próximo da ilha ficava numa vila que visitei há mais de 20 anos, e à qual não havia retornado.
Absalão, teimoso, quase intratável, só decidiu viajar até o posto da Vila porque o sangue não estancava na mão enfaixada. Entramos no bote de alumínio, motor pequeno, e navegamos em direção da Vila. O pescador me indicava a rota, pois eu estava totalmente perdido na escuridão do rio, que se confundia com a noite densa. No meio da viagem, a luz do luar revelou o estirão branco da Praia Grande, e numa elevação próxima à margem surgiram as cruzes de um pequeno cemitério. Luzes esparsas piscavam na floresta como se fossem vaga-lumes; mais de uma hora depois, atracamos na Vila, onde os moradores se reuniam nos bares para comemorar o ano novo. O som de uma música tecnobrega vinha de um galpão distante, e na varandinha de uma casa de madeira, dois curumins manuseavam um aparelho com jogos eletrônicos.
O posto de saúde estava fechado. Absalão sugeriu que fôssemos à casa do médico.
“Tem um médico na Vila?”, perguntei, surpreso.
Um homem silencioso e discreto destrancou a porta do posto, limpou a mão ferida do pescador, deu 15 pontos no corte em cruz e fez o curativo. Depois, preencheu uma ficha e falou pela primeira vez:
“Absalão? É esse mesmo o seu nome? É o título de um livro fabuloso”.
Pelo sotaque notei que o único médico daquela região do rio Negro era estrangeiro.
“Cubano”, ele disse. “De Camaguey, bem no centro da ilha.”
Não conversamos sobre medicina nem política, mas sobre literatura, pois o cubano era um excelente leitor. Ele disse, com a modéstia de um ser insular, que na literatura cubana havia alguns narradores e poetas legíveis. Mas o nome do pescador nos levou ao romance de Faulkner, cuja obra o médico conhecia e admirava. Conversamos sobre Absalão, Absalão! e a tragédia da família Sutpen, que, de algum modo, é a tragédia do Sul dos Estados Unidos. O médico se lembrava de vários personagens, das cenas mais escabrosas e delirantes, de frases que expressam a estranha e poderosa poesia desse grande romance norte-americano.
O outro Absalão, pescador, nos ouvia com interesse e, de vez em quando, examinava o curativo que cobria sua mão. Enquanto o médico comentava a ficção de Faulkner, eu pensava no poder da literatura, capaz de desarmar os mais ferozes gladiadores da arena política. Diante de um médico-leitor culto, percebi que a medicina social e a literatura eram suas grandes paixões. E não pude deixar de citar dois grandes médicos-escritores brasileiros, Pedro Nava e Guimarães Rosa, ambos cultíssimos, sendo que o primeiro exerceu sua profissão até pouco antes de morrer. Pensei: o estudante de medicina que ler Baú de Ossos será mais do que um médico…
Às dez e meia, eu e o pescador saímos da Vila e regressamos à ilha no rio Negro; o vento e o pequeno motor retardaram nossa viagem de volta. Nos arredores da Praia Grande, um barco tosco e iluminado passou perto do nosso bote, emitindo uma algaravia alegre, que rompeu o silêncio e a solidão noturnos. E quando deu meia-noite, vimos as luzes do nosso barco, atracado na ilha ainda distante.
Ouvi a voz de Absalão: “Vocês conversaram sobre um romance ou sobre a bíblia?”.
“Sobre um romance mais ou menos inspirado numa personagem bíblica”, eu disse. “Histórias inventadas, Absalão. Tu sabes a origem do teu nome?”
“Mais ou menos”, ele disse. “História e nome é tudo doido…”
Não pude ver a expressão do rosto do pescador, que virou o rosto de lado e ergueu a mão costurada na noite que ventava.

* Publicado no jornal O Estado de São Paulo de 10 de abril de 2015


Onde:


http://cultura.estadao.com.br/noticias/geral,um-medico-leitor-nos-confins-imp-,1667138

http://www.miltonhatoum.com.br/?s=absal%C3%A3o

http://dukechargista.com.br/


domingo, 17 de maio de 2015

Anésia

Anésia # Will Leite























Onde:

http://www.willtirando.com.br/?b=an%C3%A9sia&Pagina=33

sábado, 16 de maio de 2015

Divino 2015

Festa do Divino - Paraty - RJ
Fotos de Fernando Fernandes













studio bananal
sergio atilano - fernando fernandes

rua comendador josé luiz 16
centro histórico
paraty

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tel (24)99517985 - (24)33712693


Onde:

http://studiobananal.com/

quinta-feira, 14 de maio de 2015

Céu de Brasília para canto e haicai



Miro no alvo
Alcanço o anil
Céu aberto por um fio



Brasília vista do céu # Jair Tannus Neto
Música : Linha do Equador - Djavan




















quarta-feira, 13 de maio de 2015

Il Paradiso

Nonário: nove visões do Paraíso # Aguilar (sobre obra de Dante e tradução de Haroldo de Campos



Oh trina luce che’n unica stella
scintillando a lor vista, sì li appaga.
Guarda qua giuso alla nostra procella!

...

l’amor che move il sole e a’altre stelle.


(Ó triplicada luz de única estrela,
que a cintilar seus ânimos alaga,
apazigua aqui nossa procela!

...

o Amor que move o sol e move estrelas.

(PAR. XXXI, 28-30, XXX, 145.)

Dante Alighieri - A Divina Comédia

Tradução: Haroldo de Campos



Onde:

Il Paradiso # Aguilar/ Haroldo de Campos
Catálogo da Exposição 
(Junho/Julho 1989)

http://www.art-bonobo.com/artes/aguilar/agui05.htm

sexta-feira, 8 de maio de 2015

Anaflor

Colagem sobre o poema Anna Blume de Kurt Schwitters # Romi Nowroth



ANA FLOR

Ó amada dos meus vinte e sete sentidos, eu
te amo! — tu, te, ti, contigo, eu te, tu me.
— nós?
Isto (de passagem) não vai bem aqui.
Quem és tu, mulher inumerável? Tu és
— és? — eras, andam dizendo, — deixa
que digam, nem sabem em que pé
está o campanário.
Chapéu nos pés, caminhas sobre as mãos.
Volante sobre as mãos.
Olá, pregas brancas serram tua roupa rubra,
rubroteamo Anaflor, em rubro te me amo! — Tu
teu te a ti, eu te, tu me. — Nós?
Isto (de passagem) lança-se à brasa fria.
Rubraflor , rubra Anaflor, que andam dizendo?
Adivinha:
1.) A doidiv’ana tem uma ave.
2.) Anaflor é rubra.
3.) E a ave? Quem sabe?
Azul é a cor dos teus cabelos louros.
Rubro é o arrulho de tua ave oliva.
Tu, criatura simples num vestido cotidiano, bem-amado
animal verde, eu te amo! — Tu te ti contigo, eu
a ti, tu a mim, — Nós?
Isto (de passagem) vai para o braseiro.
Anaflor! Ana, a-n-a, gotejo teu
nome.Teu nome em gotas, tenra gordura bovina.
Sabes Ana? Já o sabes?
De trás para frente podes ser lida, e tu,
a mais bela de todas, para trás
Ou para diante
serás: a-n-a.
Gordura bovina goteja ternura em meu dorso.
Anaflor, animal gotejante, eu te me amo!

Kurt Schwitters - Tradução: Haroldo de Campos



Onde:

http://dadoacaso.blogspot.com.br/2011/04/kurt-schwitters-o-dada-alemao-ii-por.html

http://rominowroth.de/anna-blume/

quarta-feira, 6 de maio de 2015

Por quem as panelas batem

Foto do Tweet # autor desconhecido



LULA DEU UMA SURRA NO PANELAÇO

Paulo Nogueira

A direita não deve ter ficado muito feliz ontem.

Porque o fato é: Lula surrou o Panelaço.

Aconteceu com o Panelaço o mesmo que ocorrera com o Protesto de 12 de abril: murchou, pifou, depois de uma primeira edição surpreendentemente bem sucedida.

O duplo fracasso – do Panelaço e do Protesto – trai uma verdade doída para os interessados na derrubada de Dilma: seu momento passou.

Passou primeiro porque é simplesmente uma estupidez querer cassar 54 milhões de votos sob pretextos cínicos, falsos e vis.

Segundo porque o governo Dilma e o PT retomaram a iniciativa.

Ficou claro, por exemplo, que ao contrário do que a imprensa vinha tentando propagar os problemas econômicos do país não são exclusividade nacional. Fazem parte de um drama mundial.

Foi grande o esforço dos comentaristas das corporações de mídia em levar os inocentes a crer que o dólar alto era um fenômeno apenas do Brasil.

Mentira.

Houve também uma mobilização conservadora para retratar uma Petrobras aos pedaços.

Outra mentira.

As ações da Petrobras não param de subir, e investimentos bilionários na empresa feitos pela China e pela Shell mostram que a mídia brasileira definitivamente não é levada a sério fora do seu quadrado de atuação.

E então chegamos a Lula, a grande estrela do programa do PT que foi ao ar ontem em rede nacional.

Para desespero da oposição, Lula demonstrou que é o Lula de sempre. Não apenas exibe vigor físico como continua a dominar a arte de falar e convencer.

É um caso único de poder de retórica no universo político brasileiro. Lula reúne simplicidade e profundidade em seu discurso, e transmite sinceridade mesmo quando fala alguma bobagem.

Comparemos.

Aécio fala com pedantismo, com ares de político da Velha República, um Tancredo com implante de cabelo e dentes artificialmente brancos.

FHC é aquele professor que repete a mesma coisa há meio século, e que ninguém aguenta mais escutar. Alckmin é uma mistura de Frontal com Dormonid.

E Dilma pensa melhor que fala, muito melhor. Usa frases longas e repete expressões que acabam com qualquer estilo. (Acredito que etc etc, por exemplo.)

Dilma poderia – deveria – ter treinado a arte de falar em público, mas é preciso reconhecer que mesmo com todas as suas limitações neste terreno ela não teve maiores problemas em lidar com Serra e Aécio.

As circunstâncias precipitaram os debates sobre 2018, e Lula aparentemente leva muita vantagem sobre seus eventuais oponentes.

A direita talvez se preocupe com o tom incisivo de Lula nos últimos tempos, mas não há razões para pânico.

Lula está mobilizando a militância do PT com seu discurso ligeiramente radicalizado, o mesmo grupo que provavelmente o levará ao Planalto em 2018.

Depois, seu espírito conciliador, de sindicalista acostumado a negociar, prevalecerá.

Num país tão polarizado, tão dividido, tão cheio de ódio, um conciliador pode devolver o sentimento perdido de unidade.

Até por isso Lula sobra, desde já, para 2018.


Onde:

http://www.diariodocentrodomundo.com.br/lula-deu-uma-surra-no-panelaco-por-paulo-nogueira/

sexta-feira, 1 de maio de 2015

Nesta data querida: um ano de blog

Mafalda # Quino



"O sage, Dichter, was do tust? Ich rühme."



"Dize-me, Poeta, que fazes? - Eu celebro."

Rainer Maria Rilke  - Tradução: Augusto de Campos



Onde:

Coisas e anjos de Rilke # Augusto de Campos
Ed. Perspectiva

http://www.todohistorietas.com.ar/historiademafalda.htm